segunda-feira, 29 de junho de 2015

Opinião Formada e o Rock



Andei passando por algumas situações durante esses dias, que me fizeram pensar muito em como minha opinião se forma sobre algumas coisas. As vezes tenho uma visão tão diferente do que a das outras pessoas que eu acabo sendo tachada de chata, inflexível e outras coisas. Mal sabem as pessoas o quão flexível eu sou quando se trata de certos assuntos. O que "importa", é que eu já perdi muita 'amizade' por ser uma pessoa de opinião, mas em compensação ganhei outros amigos também. Bom, vou falar sobre algumas coisas que envolvem a minha opinião sobre o rock.

A começar pela “intolerância rock n’ roll”. Todos os dias eu leio coisas do tipo “rock é melhor do que os outros gêneros”, “rock é pra pessoas inteligentes” etc. Ok, rock é um estilo musical que é até “bem visto” em comparação com o nosso cenário musical nacional. Mas quando eu vejo alguém engrandecendo o rock às custas do preconceito com os outros estilos, eu penso “como isso pode ter um público tão ‘cult’ e tão intolerante?”. Vivemos pedindo igualdade pois somos tão frequentemente mal interpretados, mas ainda assim pede-se o FIM de bandas de outros estilos musicais. O que você pensaria se o seu Metallica fosse banido apenas porque um grupo de pessoas não gosta? É egoísmo pedir para que uma coisa acabe porque você não quer, isso é ser intolerante.
Outra coisa que me incomoda muito, é essa corja de “roquistas” que se acham muito fodas por ouvir rock, mas não sabem o que foi o Woodstock, ou como Jazz, Blue, Funk tiveram (e ainda têm) influência sobre o rock. A única coisa que sabem é criticar o gosto dos outros e dizer que é “Pantera forever”.

Não estou defendendo nenhum outro estilo musical, estou apenas discorrendo sobre as preferências musicais e como somos fechados para isso. Eu amo rock e suas ramificações, mas como já até citei antes, eu adoro MPB, e as vezes quando eu falo que o primeiro show que eu fui na vida foi o do Zeca Baleiro, as pessoas olham com cara de nojinho, não sabem do que se trata, não valorizam a cultura do próprio país, e justamente essas pessoas que fazem essa “cara” pra mim, são as pessoas que usam camisa do Nirvana apenas porque “Smells Like a Teen Spirit é a melhor música”.  Não dá para discutir com a pessoa que não tem base de conhecimento suficiente pra sustentar argumento, acham que toda música nacional é lixo. Duvido esse pessoal tão hardcore vestir a camisa de uma banda independente, duvido comprar um cd que não passou pela mão de uma gravadora fodona ou qualquer coisa do gênero por achar que o Brasil só produz sertanejo e funk. Um pouco de informação é bom pra vida.


Precisamos valorizar nosso estilo musical, mas também precisamos aprender a respeitar os outros, parar de falar merda em rede social e aprender mais sobre a cultura que você segue. 

E é isso, pessoal. Espero que tenham gostado um pouco dos meus pontos de vista, caso queiram acrescentar algo, é só comentar aqui ou no facebook.

Kiss, 
Nat.




p.s. Todos os comentários são de minha autoria, caso haja alguma divergência, entrar em contato.
Capa da Postagem: London Calling - The Clash (1979)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Entrevista Rock Prayer: Bruno Sutter



No dia 05 de Junho de 2015 tive a oportunidade de conversar com um dos caras do rock mais sensacionais que eu já conheci, o Bruno Sutter, mais conhecido pelo seu personagem Detonator. A gente conversou sobre a carreira dele e os projetos. Ficou bem bacana esse bate-papo e vocês podem ler abaixo;




1. Por que fazer música?
BS: Porque a música é a minha vida, não tem explicação. É igual estar apaixonado, você não sabe porquê, você só sente. Desde que eu me entendo por gente a música faz parte da minha vida. Meu pai colocava um disco do Vinicius de Moraes com o Toquinho pra eu ouvir e era um disco muito bem construído musicalmente, então desde pequenininho eu escuto boa música. E acho que esse foi o grande legado que meu pai  me deixou.


2. Com quantos anos você decidiu que queria fazer música?
BS: Por volta de uns 12 anos
-E seus pais te incentivaram?
BS: Hm... não muito. Porque existe muito preconceito. A história  dos músicos desde sempre é permeada por preconceitos. Nos anos 20/30, quem fazia música era tirado de marginal, o tempo foi passando e a profissão de músico nunca foi vista como profissão. Quando eu vou fazer um crediário em algum lugar a pessoa pergunta "profissão?" "músico" "mas não tem nenhum trabalho?" [risos]. No começo eles (os pais) ficaram receosos, tanto que eu não fui direto pra música, fiz o caminho que todo mundo faz. Fiz faculdade, e como hobby eu fazia shows na noite em Petrópolis, mas nunca foi considerado como profissão pra mim. Então eu fazia faculdade de ciências da computação, parei no terceiro ano porque o Hermes e Renato estourou em São Paulo e eu vim pra cá. Então consegui conciliar a minha profissão, que é humorista com o meu amor que é a música. E hoje em dia eu posso dizer que, graças a Deus, eu vivo exclusivamente de rock.


3. Essa é uma profissão muito difícil, em muitos aspectos. Qual é a sua inspiração pra continuar?
BS: O que me inspira é o próprio desafio da dificuldade de se viver de música. E mais difícil de viver de música, é viver de rock. Que é um estilo dentro da música que já é muito à margem. E no mundo inteiro, o rock 'tá numa fase muito difícil. Antigamente a base de tudo era o rock, até música da Xuxa tinha guitarra. E agora eu tive que criar uma forma de me sustentar dentro do universo do rock, que foi transformando o Detonator numa empresa, sem gravadora nem nada. O próprio destino me colocou nessa.


4. Como surgiu a ideia do Detonator?
BS: Ele surgiu  na época do Hermes e Renato em 2002 quando nós estávamos fazendo várias sátiras musicais de vários estilos. Então o Detonator nasceu junto com o Massacration, que era pra ser só um quadro dentro de um dos programas. Só que quando o Massacration apareceu o pessoal ficou pedindo mais músicas, aí o João Gordo [Ratos de Porão] e o Igor Cavalera [Sepultura - Cavalera Conspiracy - Strife] são os dois padrinhos do Massacration, foram uns dos que mais incentivaram a continuar, e aí virou história.
 


5. O que mudou na sua vida depois do fim do Massacration?
BS: Ah, mudou tudo né. Eu tive que sair do Hermes e Renato e, consequentemente sair do Massacration. Na verdade o Massacration já tinha acabado antes de eu sair do Hermes e Renato porque eles sempre viam fazer os shows como um trabalho muito pesado. Porque a gente escrevia os roteiros de segunda a sexta e fazia os shows sábado e domingo. Então não tinha descanso. Pra mim o que é diversão, pra eles era mais um trabalho. Então eles ficaram muito cansados e a banda acabou, eles decidiram e eu concordei, só que coincidentemente a gente tava na Record e eu tava muito cansado de trabalhar em um canal que não me deixava fazer humor da maneira que era na MTV. Então conversando com os meus amigos, eu saí do Hermes e Renato pra voltar pra MTV e retomar a carreira do Detonator. Então o que mudou é que eu transformei o Detonator na minha fonte de sub existência.   


6. Você gravou três discos sem nenhuma gravadora, como foi fazer isso?
BS: No começo eu fiquei muito deprimido por ter uma ideia tão bacana, que era o Metal Folclore, que era um disco que vinha um álbum de figurinhas,
ser recusado por todo mundo, pro mercado é uma ideia atrativa, uma ideia nova e foi um baque porque eu sabia que o produto era bom. Mas depois de ter tomado "não" de todo mundo, a minha única escolha era lançar independente, eu não ia colocar um projeto tão legal na gaveta. E foi a melhor coisa que aconteceu. Eu posso te falar com certeza que eu sou o artista de heavy metal brasileiro com o maior faturamento. Porque todo o lucro do disco vem pra mim, eu não preciso dividir esse dinheiro com nenhum "atravessador". Porque gravadora e distribuidora são atravessadores do meu trabalho hoje em dia. Ninguém vai fazer propaganda melhor do que eu, ninguém vai vender melhor que eu o meu disco. Mas teve que demandar muito esforço e muito trabalho, e estou hiper realizado com o que eu tenho feito.

7. Os dois últimos discos, o Detonathor e o Live InSana foram lançados simultaneamente. Olhando para o mercado, não foi uma coisa muito arriscada?
BS: Cara, eu poderia ter feito dentro do Live Insana ter colocado o Detonathor junto, ter virado um CD só, mas o conceito é totalmente diferente um do outro. O Detonathor é a continuação do Metal Folclore e como eu aprendi no Hermes e Renato, uma história, pra ela ter validade, ela tem que ser bem contada. E por causa de mercado, eu precisava lançar o Live Insana CD antes do DVD, porque não vai ser atrativo pro público comprar o CD se o DVD já tá no mercado. Então, é, foi arriscado sim, aí eu pensei na ideia do combo. Consegui um desconto legal fabricando 2 mil CDs e esse desconto eu pude jogar pra venda final; Então eu praticamente vendo os dois CDs ao preço de um. Então muita gente comprou o combo e eu posso te dizer que é um fenômeno de vendas você vender mil discos, 500 de cada, realmente pra quem não tem uma gravadora, não tem nada. Quem tá nesse mercado de heavy metal é muito, muito legal.


8. Você também participa como vocalista em algumas bandas, como na Helloween cover, por exemplo e até pouco tempo atrás, a Soundtrackers. Como você manipula seu tempo pra dar conta de tudo isso?
BS: ... E tem ainda o Uriah Heep (com Máquina 70) [risos].... tem o Death Tribute também [mais risos].
O tempo ele acaba aparecendo, a gente tem que saber manejar o tempo de uma forma que a gente não se enrole, mas eu sou viciado em música, é um bom vício [risos]. Nenhum vício é bom, mas é menos pior que outros, como drogas... enfim... Mas eu gosto de cantar. Cantar é a minha vida e eu coloquei na minha cabeça que eu vou viver me divertindo. Eu não vou passar minha vida num escritório, frustrado, trabalhando com o que eu não gosto. Já tive essa experiência muitos anos atrás e não é legal. Não quero passar a minha vida em branco. Eu quero fazer o que eu quero, sem prejudicar ninguém e me divertindo.  Então é "ah... você, espera, vou fazer um show ali e já volto pra retomar esse projeto..." E não me toma muito tempo. As bandas já estão ensaiadas, é só fazer os shows. Não tem jeito, se tiver alguém me chamando pra cantar qualquer coisa de rock, eu vou [risos].



9. Não é qualquer um que faz um agudo como o do Detonator. Como você prepara a sua voz?
BS.: Na verdade eu sou cantor profissional erudito desde pequenininho, e tenho um cuidado muito grande com a minha voz. Tento não gritar, não costumo sair a noite, não bebo, sempre procuro cuidar muito bem da voz porque eu vivo exclusivamente dela, tanto nas bandas, como aqui na Kiss [FM], eu tenho que estar com a voz boa pra apresentar o programa. Hoje, por exemplo, minha voz não 'tá muito legal porque 'tô meio afônico, que eu fiquei gripado no início da semana. Então eu tenho que saber fazer os exercícios de aquecimento de voz e tudo. Se eu não tivesse feito eu não estaria nem falando hoje. Então quem é cantor e vive da voz tem que se privar de certos luxos. Uma das coisas que mais tira a voz da pessoa é falar alto e beber.
10. Agora falando sobre o Bem que se Kiss, seu programa na rádio Kiss. Como surgiu essa ideia?
BS.: Eu sempre fui fã da Kiss, porque a Kiss não tem ouvintes, a Kiss tem fãs. Quando a MTV acabou, eu queria fazer o programa na Kiss, mas eu não tinha um conhecimento, então eu fiz um estudo sozinho, estudei o público alvo da Kiss com mais cuidado e bolei um piloto sozinho em casa e vim aqui. Simplesmente bati na porta. Aí eu mostrei o piloto pro Evaldo, ele se amarrou. Aí a gente foi pra sala do pessoal do departamento pessoal, eles ouviram, gostaram, aí a gente foi pra chefe. Aí ela falou "olha, só tenho uns três minutos pra ouvir você". No final ela ficou uma hora ouvindo o programa [risos]. Em suma, eu tive uma ideia, fui atrás dela sem nenhum tipo de 'melindre' e deu certo, né.
11. Além de todos esses trabalhos que a gente comentou aqui, você ainda tem o Amada Foca junto com os ex-MTV e vocês têm um canal no Youtube, mas vocês têm planos pra voltar para a televisão?
BS.: Sim, a gente tá conversando com um canal de TV a cabo - não posso falar o nome ainda - que a gente 'tá com uma negociação bastante avançada pra voltar pra TV. Porque é importante estar no Youtube, importante estar na internet porque você mantém a sua imagem perante a mídia, perante os seus fãs que a televisão não te dá, a internet por intermédio do Youtube te dá a liberdade de você aparecer quando quiser e na hora que você quiser, você decide. É um canal, e as pessoas as vezes não se atentam que essa palavra é muito poderosa. É um canal, igual um canal de TV e hoje em dia, a penetração da internet dentro dos adolescentes e até da nossa faixa etária tem sido muito maior do que a própria televisão. Então o movimento hoje é o movimento inverso; hoje em dia as pessoas utilizam a televisão como complemento do renda, e tem o foco mais em internet.
12. O Detonator tem algum projeto vindo por aí?
BS.: Tem, a logística já tá no 4º disco. No 5º na verdade, porque a gente não pode só pensar no agora, porque aí "beleza, 'tô fazendo a turnê do Live InSana - cabô... e agora, que que eu vou fazer?". Já tem ideia pra mais dois ou três discos. Tem a sequência do Detonathor e a do Live InSana e a do Metal Folclore que é o Detonator se transformando num Cavaleiro do Zodíaco, com toda aquela história de Athena, dos cavaleiros de ouro e isso vai acontecer, eu quero fazer um projeto bem bacana com os dubladores, fazer uma história muito maluca juntando esses dois universos. E tem o próximo disco também, que é o "Detonator Presidente do Brasil", que vai ser depois desse, e nesse aspecto pode aparecer algumas coisas entre esses dois discos, como o Novo Testamento da Bíblia do Heavy Metal, eu quero que o Detonator também entre nesse universo de games como tem o Smite, ele agora é personagem de um jogo internacional e isso dentro do universo do rock, heavy metal brasileiro, é um grande ponto a favor. Então tem muita coisa do Detonator pra vir ainda.
 
13. Tem alguma coisa que você gostaria de acrescentar?
BS.: É mais um conselho: se você quer viver de arte, quer viver de música, não se prenda a se tornar um empregado de gravadora porque isso vai te dar dor de cabeça. É muito melhor você ter a dor de cabeça fazendo o teu próprio negócio e não depender de terceiros pra tirar o teu dinheiro do que virar um empregado e viver de migalha. Eu sei que o meu exemplo, muita gente pode achar que é mais fácil porque eu passei muito tempo na televisão e tudo, mas eu tomei "não" de todo mundo igual a qualquer um que começa. Então que que eu fiz, arregacei as mangas e fui trabalhar. Todo dia eu vou no correio postar as compras da Lojinha, eu mesmo 'tô fazendo a diagramação do DVD do Live InSana, 'tô montando tudo lá em casa. É uma empresa de um cara só, mas espero que cresça e que sirva de exemplo para outras pessoas que queiram viver de música.
 


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Queria agradecer ao Bruno pela oportunidade de ser o meu primeiríssimo entrevistado e por toda a atenção, e também à minha amiga Bruna Lemes, que sem ela eu não teria conseguido metade disso.


Kiss, 
Nat.